domingo, 30 de dezembro de 2012

NATAL DOS FANECAS !




Na noite de Natal, os Fanecas deitaram-se cedo, não porque tivessem sono, mas porque a barriga estava vazia e o tempo estava frio e chuvoso. Por entre as frestas da barraca, entrava um frio de fazer bater o queixo. Quando já todos estavam a dormir, ou assim pensava o Becas, este levantou-se e foi colocar uma das suas sapatilhas para o Pai Natal ai deixar alguma coisa, na banca onde estava uma placa de quatro bicos que o pai tinha achado junto a um contentor do lixo, dos quatro bicos só dois é que funcionavam e para sorte dos fanecas a placa era eléctrica, porque se fosse a gás, mesmo que funcionassem os bicos todos não tinha interesse, não havia dinheiro para o gás e sendo eléctrica, estava tudo resolvido. O senhor Faneca, meteu em prática o curso que foi tirando no decorrer dos anos, pois este senhor já teve que viver com a família em variadíssimos lugares, por isso, é uma pessoa com muita experiencia no campo da electricidade, talvez por essa razão, ele procure sempre a proximidade de um poste de electricidade quando se quer instalar. O Faneca é uma pessoa que não gosta de incomodar os outros, pega nas ferramentas que comprou a um descuidado que deixou a bagajeira aberta e faz ele a respectiva baixada de electricidade, diz ele, que é para não dar mais trabalho aos senhores da EDP. Esta gente desfavorecida pode ser pobre nos bolsos, mas ricos em imaginação. Aprecio o seu profissionalismo!
Durante a noite, como de costume regressam a casa, quero dizer ás outras barracas o pessoal da noite e como sempre, eles não falam, gritam uns com os outros ao ponto de acordarem dos lá do bairro. O Becas assim que se fez dia, levanta-se e vai direito á sapatilha, coitado do menino, ficou triste porque a sapatilha estava como ele a lá tinha deixado, sem nada.



O Becas é o filho mais novo do Faneca, tinha apenas cinco anos e era fruto do quarto relacionamento do Faneca. Quero realçar que filho mais velho tem quarenta e cinco, ao todo são onze, o Faneca tem sessenta e dois anos e a sua companheira actual tem dezoito, diz ele que ela é a sua fonte de inspiração, quando ao fim do dia regressa com as notas a casa. São uma família de trabalho, todos dão no duro, em álcool e no pó de talco, como gostam de lhe chamar, depois de um dia duro de trabalho sabe bem relaxar, para tirar o stress, dizem eles, todos têm que contribuir com alguma coisa lá para casa, mas o patriarca da família, diz que já trabalhou muito, agora vive dos rendimentos da sua companheira, o Faneca costuma dizer que a sua amorosa, com a idade e o corpo que tem o qual è de bradar aos céus,  não há quem não queira investir, toda ela é uma fonte de rendimento. Para além dos rendimentos da sua amorosa, tem também o rendimento de inserção social e o abono de alguns deles, mas esse dinheiro é para o chefe da familia, afinal ele é que teve que dar no duro para alimentar a linha de produção de filhos!


Depois de uns dez minutos de choro, o Becas foi abrir a porta ao mantinhas, é assim que o gato se chama e qual não é o espanto do rapaz, que no momento de abrir a porta, deparou-se com um pacote de caramelos já meio aberto ali á sua frente no chão. Apanhou-o e ralhou com mantinhas que não tinha nada que abrir o pacote dos caramelos, correu e foi e mostrar o seu tesouro aos restantes  membros  da mansão e comentou, mas porque razão o Pai Natal não deixou os caramelos na sapatilha? Com toda a sabedoria e pensamento rápido, disse o senhor Faneca. Anda cá filhote, sabes porque razão o Pai Natal deixou lá fora os caramelos e não os meteu na sapatilha? È que não temos chaminé, já se não usa neste tipo de casas modernas como a nossa e a porta estava fechada. E assim, o Becas teve um dia muito feliz pensando que o Pai Natal passou por ali e lhe deixou os ditos caramelos, quando na verdade estes devem ter caido do bolso de algum dos rapazolas que por ali passou de madrugada.
Para os pobres e principalmente para as crianças destes, não é necessário muita fartura, basta um pouco de nada e calor humano.





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