sábado, 20 de novembro de 2010

VIAGENS NO METROPOLITANO !







Passados alguns anos

Ainda me lembro como se fosse hoje

O metro apinhado de gente

E à hora do costume

Lá vinha ela sempre de pé

Uma senhora linda trintona

Eu, um adolescente de 18 anos

Que entrava na estação do Rossio

Seguiamos até ao Saldanha

Viagem longa para alguns

Para mim sempre curta

Para ela, nunca o cheguei a saber

Deslizando entre as pessoas

Aproximava-me dela e ela

Ali ficava, sentia até que se aconchegava

De encontro a mim e o metro seguia

Os solavancos da carruagem

E os empurrões das pessoas

Eram momentos deliciosos

Momentos em que podíamos sentir

O calor dos nossos corpos

Ela deixava-se estar

Eu, vivia os prazeres da manha

Com o seu cheiro corporal

O jeito meigo como me olhava

Era uma viagem extasiante

Trocavamos palavras de silêncio

E em silêncio nos mantivemos sempre

Um dia por mera casualidade

Encontrei-a fora da nossa carruagem

A passear num dos jardins da cidade

Com ela um cavalheiro paraplégico

Rondando a sua idade, um pouco acabado

A minha mente desmoronou-se

Naquele momento senti que a compreendia

Ainda hoje tenho pena

Por não termos trocado palavras reais

Imagino ainda a sua nudez, vestida

Porque nunca mais a voltei a ver.

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